Devendra Banhart, o músico norte-americano nascido no Texas e criado entre a Venezuela e a Califórnia, visitou recentemente terras lusas com dois concertos que encerraram a digressão pelo velho continente. Concertos que tiveram lugar na sexta-feira passada, dia 2 de Agosto, na Casa da Música, no Porto e no dia seguinte, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, tendo como mote, a apresentação do seu novo álbum “Mala”, editado em Março deste ano pela Nonesuch Records.
WcA não faltou à chamada e esteve presente na cidade Invicta, na lotada Sala Suggia da Casa da Música, para assistir ao regresso do tão estimado Freak Folker norte-americano.
A preparar o auditório ansioso e expectante, esteve Rodrigo Amarante, a quem coube as honras de abertura. O músico brasileiro, antigo elemento de Los Hermanos, membro actual da Orquestra Imperial e do trio Little Joy, trouxe algumas canções calmas e agradáveis, uma ou outra cantada em Francês ou Inglês, mas com o Português a imperar nas suas composições. Motivo que deu azo a uma pequena conversa com o público, onde Rodrigo Amarante, confessou ter a sensação de estar a ser compreendido em pleno pelos espectadores, pela primeira vez em toda a digressão, que passou por vários palcos europeus, entre os quais o Festival de Glastonbury, no Reino Unido e o Festival de Jazz de Montreux, na Suíça.
O assíduo colaborador de Devendra Banhart, interpretou perante uma plateia composta, ora sozinho com a sua guitarra, ora acompanhado dos seus colegas de estrada, temas incluídos em “Cavalo” o seu disco a solo, cuja edição está prometida para breve. Compromisso selado entre aplausos, apresentações e um breve e bem disposto diálogo de começo de espectáculo, entre ele e o seu amigo Devendra Banhart, que posteriormente se dirigiu à plateia perguntando: “Tudo bem? Tudo cool? Are you comfortable?”
Rodrigo Amarante, o cantor de terras de Vera Cruz, regressou ao palco, agora na condição de um dos elementos da banda que tem acompanhado, Devendra Banhart, na sua nova odisseia musical pela Europa e pelo mundo fora, arrastando também consigo Fabrizio Moretti, o seu companheiro nos Little Joy, para auxiliar nas lides da percussão e bateria.
No seu aguardado regresso em nome próprio a Portugal, Devendra Banhart apresentou-se contido e formal. Visual e musicalmente menos Freak e Folk em comparação a passagens anteriores pelo nosso país, contrariou em especial e de certa forma, tudo o que demonstrou em 2004, na sua mítica estreia portuguesa, no Festival Para Gente Sentada em Santa Maria da Feira.
Permanece o talento para compor boas canções, que ganham vida em palco, através de uma particular expressividade experimental, que oscila entre os trejeitos vocais; os bramidos tribais; os sussurros; os lamentos, os cómicos passos de dança e outra série de gestos e rituais, que ajudam a sustentar o título de prodigioso Freak incompreendido na música Folk, sendo responsável pela redescoberta de Vashti Bunyan e também pela recontextualização deste vasto género musical.
De tempos em tempos, o poliglota artista norte-americano falou com o público e com os membros da banda, apresentando temas, brincando e tentando aqui e ali esforçadamente falar em Português, desmanchando-se seguidamente em desculpas por ainda não saber o suficiente e por também ainda não ter tido tempo para o aprender, mesmo rodeado de uma banda maioritariamente falante da língua de Camões, com sotaque gingão da Bossa - Nova.
Cantarolou repetidamente: “Eu não sei falar português” mencionando pouco depois que poderia tornar-se num hit e rapidamente avançou para mais um tema do seu oitavo disco de estúdio, “Mala”. Segundo este texano de ascendência venezuelana, o novo disco, abrange temas sobre o amor, os sentimentos mais íntimos e os relacionamentos, numa perspectiva hilariante com acentuados laivos pessimistas e melancólicos. “Mala” é um álbum sonoramente caleidoscópico, dócil e estival, cujo título pode ter significados múltiplos conforme a língua. Aposta-se na hipótese de Devendra Banhart, se ter inspirado na palavra sérvia para “pequena” - talvez uma ternurenta e frequente alcunha para a sua amada, a designer sérvia Ana Kraš, ou então, no seu significado em castelhano, representando assim, a crueldade das relações, abordada no disco de uma forma peculiar.
Maior parte do repertório do espectáculo centrou-se em “Mala” - quase tocado na íntegra - Onde o single de apresentação Never Seen Such Good Things, figurou na lista, a par de temas como Daniel; Fur Hildegard Von Bingen; Your Fine Petting Duck (aqui com alguns toques de electrónica) e o sul-americano Mi Negrita, com a participação de Rodrigo Amarante, só para citar alguns…Também, não foram esquecidos temas mais antigos como, Baby, incluído no mal-amado álbum, What Will Be de 2009, e a incursão quase solitária por Smokey Rolls Down Thunder Canyon, através de Lover; Bad Girls; My Dearest Friend e do maravilhoso e magistral Seahorse, que propiciou um momento assombroso. Também de notar a excelente interpretação de Devendra Banhart para Little Yellow Spider que arrebatou sorrisos, antes de se despedir por breves minutos.
Lá para o fim, Devendra e companhia regressaram ao palco para a despedida final, com um brevíssimo encore. Devendra Banhart, primeiro solicitou a ajuda dos presentes: “Is there any music do you want to hear?” Por entre as difusas respostas do público em alvoroço, prevaleceu uma nova passagem pelo álbum de 2007, Smokey Rolls Down Thunder Canyon com Carmencita. Tema que arrancou das confortáveis cadeiras da maior sala da Casa da Música, grande parte dos presentes, compelindo-os a dançar no derradeiro festim que muitos esperavam estender-se a mais 2 ou 3 músicas. Inesperado e abrupto foi o fim, que gerou uma onda de insistentes aplausos, na esperança de mais um regresso ao palco, que infelizmente não aconteceu. Os aplausos, só esmoreceram largos minutos depois da sala Suggia se ter novamente iluminado por completo.
Houve espaço para tudo neste espectáculo que encaixou na perfeição para animar a leve noite estival portuense, durante pouco mais do que uma hora e alguns minutos. Houve tempo para pequenos diálogos alegres com poliglotismo pelo meio; risos; jams de guitarras e algum Rock. Também houve um acompanhamento sincronizado e imaculado da banda e por vezes do público, feito com muitas palmas e danças de pés ou em pé.
Deliciosas foram as viagens musicais com toques de psicadelismo e com o romantismo derrotista a surgir de quando em quando. Também marcou presença já lá mais para o fim, a solidão, consumada através da voz de Devendra Banhart, intérprete de canções de corpo e alma.
Um bom concerto que soube bem, mas também a muito pouco…Aguarda-se um novo regresso para mais uma atribulada viagem musical pela New Weird America ou mesmo pela Freak Folk trazida pela voz e música deste artista norte-americano, considerado um dos mais talentosos e carismáticos músicos da actualidade.
by Sonya SP
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